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Um mundo de diagnósticos


"Somos todos loucos."


"A vida não tem equilíbrio, só equilibristas." — José Miguel Wisnik


Vivemos num mundo onde cabem cada vez mais diagnósticos e cada vez menos escuta. Tudo precisa de um nome, um rótulo, um laudo. Mas quem é que definiu o que é normal? Existe mesmo um padrão seguro, estático e saudável de ser?


Lacan nos provoca ao inverter o clássico “Penso, logo existo”, com sua célebre frase:


“Sou onde não penso. Penso onde não sou.”


Ou seja, talvez sejamos muito mais do que conseguimos pensar — e o inconsciente grita justamente onde o controle falha.



A loucura e a normalidade


Sempre me senti atraída por conversas com gente “quase à beira”. São as mais interessantes, mais verdadeiras. Mentes questionadoras, criativas, sensíveis, profundamente humanas. Aquelas que se recusam a aceitar as coisas como são, que não cabem nas caixinhas da normalidade. Que se rasgam, mas não se moldam.


Loucura não é anormalidade.

Loucura, às vezes, é só excesso de lucidez em um mundo que adoece quem sente demais.



Minha travessia


Minha história com a psiquiatria começou cedo, por volta dos 15 anos. Logo iniciei uma longa jornada com psicólogos e terapeutas. Fui passando por quase todos os diagnósticos possíveis: ansiedade, depressão, suspeita de borderline, síndrome do pânico, fobia social, ciclotimia, bipolaridade...


O último carimbo foi esse. Mas nenhum remédio parecia funcionar de verdade.


Foi através da espiritualidade que dei meu primeiro salto de fé. A frase “mediunidade em desequilíbrio” me despertou algo profundo — e, pela primeira vez, aquilo fez sentido.

A partir daí, minha busca se intensificou: um dia psicóloga, outro dia Reiki, à noite igreja, quartas de meditação e yoga, estudos no centro espírita, sexta-feira batendo cabeça pros Orixás.


Entre desistências e persistências, fui me (re)conhecendo.

Quando consegui parar com os remédios controlados, depois de quase 10 anos, algo em mim floresceu. As pílulas me mantinham numa certa inércia — eu sentia tudo e, ao mesmo tempo, nada. Quando a névoa começou a se dissipar, uma parte minha veio à luz. E foi lindo esse reencontro.



O reencontro com a loucura


Algum tempo depois, já atuando como terapeuta, a loucura voltou a se aproximar. Mas desta vez, como uma velha conhecida. Eu a encarei com presença.

Parecia diferente. Mais intensa.

E ali vi um lado meu que ainda estava guardado nas sombras do inconsciente.


Usei todas as ferramentas que eu tinha, mas percebi: eu precisava de ajuda.


Procurei um neurologista. O diagnóstico da vez?

Autismo com ansiedade social. Check.

Mais um rótulo pra coleção. Estou quase completando o bingo da saúde mental.


A aceitação foi difícil. Passei meses tentando encontrar uma resposta, mesmo sabendo que talvez ela não existisse. Me abri com poucas pessoas. Dizia a mim mesma: "De novo isso?"



A faca de dois gumes


É curioso como a mente sempre me chama.

Seja pelas minhas experiências pessoais ou pela paixão de estudar o tema.

Quase como uma faca de dois gumes: estudo para compreender, mas também preciso viver para sentir na pele.


E eu sinto tudo. Profundamente.


Nesses dois últimos anos, aprendi mais sobre mim do que em décadas inteiras.

Mergulhei em lugares que nunca havia acessado.

Foi assustador. Mas também foi libertador.

Sou buscadora, e o mistério me atrai.

E sim, às vezes vou com medo mesmo — mas vou.



A loucura como linguagem


Hoje, dentro de uma visão integrativa, me permito questionar:


Será que todos esses diagnósticos não são apenas nomes para a infinita e complexa capacidade humana de sentir e existir?


Quem definiu o que é sanidade?

Quem disse que pensar de um jeito é certo e, de outro, é loucura?


Claro, há casos sérios de sofrimento psíquico, neurológico e biológico — não nego isso.

Mas será que não estamos exagerando nas etiquetas?

Será que não estamos apenas tentando controlar o incontrolável, nomear o indizível, encaixotar o que escapa?


Talvez estejamos apenas tentando sobreviver num mundo que exige equilíbrio, mas só oferece instabilidade.



O espelho da alma


A análise e a terapia nos mostram que quanto mais nos conhecemos, mais partes esquecidas reencontramos.

E precisa de coragem para olhar para elas.


E quem sou eu para afirmar algo?

Apenas alguém que insiste em refletir sobre isso, vez ou outra.

E, honestamente, hoje essa é a minha verdade.



Te convido a refletir


Será que estamos realmente loucos, ansiosos e distraídos… Ou apenas não nos encaixamos no ritmo acelerado que a sociedade impõe como "normal"?


Um mundo onde o tempo não pode ser perdido, onde o dinheiro virou sinônimo de valor, e onde quanto mais você faz, mais você é reconhecido.Mas… será mesmo?


Meu sentir vai na contramão disso tudo. Acredito que tempo é vida — não produtividade. Dinheiro é energia em movimento. Prosperidade é um estado natural. E conhecer — e impor — seus limites é um ato de amor e de saúde mental.


Talvez a verdadeira loucura seja continuar tentando caber em um mundo que não respeita o nosso ritmo.



"Eu juro que é melhor, não ser o normal.

Se eu posso pensar que Deus sou eu..." — Rita Lee



Com afeto e inteireza,

Cheila

 
 
 

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